Breves Considerações Sobre as Manifestações no Brasil
O que nós temos
visto nos últimos dias no Brasil é uma série de protestos e manifestações de
vários tipos, de diversos propósitos e garanto que tem muita gente que diz
entendedora de tudo e que tem muita gente que não está entendendo nada. Eu tento
me manter no meio, mas dado minha natureza investigativa, exploratória e com um
certo senso de busca pela justiça – ou pelo menos dar voz aos injustiçados –
vejo-me com uma certa obrigação de externar alguns pontos de vista. Essa vontade
de relatar algumas coisas é como se fosse algo meio que mediúnico, formiga
minha mão para escrever qualquer coisa sobre tudo isso – e olha que eu resisti.
Pois bem, tudo
começou com os manifestantes do Movimento do Passe Livre que reinvindicava a
diminuição da tarifa das passagens de ônibus. E por incrível que pareça o
governo cedeu. Retornou a decisão. No entanto as manifestações prosseguiram e
ainda prosseguem. Talvez seja por isso mesmo que o governo deu pra traz. Ninguém
imaginava que a força popular iria se manter fiel aos seus protestos e princípios.
Ninguém imaginava. Nem a mídia golpista, nem os políticos, nem a Rede Globo,
nem o Arnaldo Jabor, nem eu. Na verdade cheguei mesmo a devanear de que tais
manifestações aqui no estado de São Paulo fosse uma estratégia de Marketing do
partido do PT para enfraquecer o governo da tucanada do PSDB. Aí um desavisado
vai me questionar: mas a prefeitura petista também não se prejudicaria com
isso? A curto prazo sim, mas ninguém descarta a possibilidade de um filme
intitulado “Lula 3 no Governo de Sampa”, embora talvez a coisa seja bem
maior... quiçá o retorno à presidência contando com o aval de militontos
petistas perpetrando um golpe dentro do governo da Dilma... Ah, pode ser que eu
esteja delirando...
Depois ví outras
manifestações sociais ocorrendo não só em sampa mas no Rio de Janeiro, Minas,
Brasília, Ceará... bem, talvez haja realmente uma insatisfação generalizada que
resolveu sair às ruas de verdade, sem o apoio da Vênus platinada como ocorreu
há vinte anos no episódio do Fernandinho – ( lembra da série de TV “Anos
Rebeldes” coincidindo com os movimentos dos cara-pintadas?)
O que me admira é
tentar descobrir como esses movimentos de manifestações se organizaram. Seria muita
ingenuidade achar que foi mera coincidência. Diante disso, fiz uma breve
reflexão e creio que a internet com suas redes sociais certamente conseguiu
movimentar grande parte desses manifestantes até porque esse público que saiu e
sai às ruas são jovens estudantes de classe média que devem ter internet e
fazer uso da mesma... opa! Tracei um perfil! Esses dados podem nos dar outras
informações de quilates valiosos. Se a classe média tomou as ruas é porque está
sentindo os efeitos colaterais de um governo que esteve teoricamente preocupado
com o bem estar social. Faço as palavras de meu amigo Mauro Marcel minhas
próprias tomando-lhe emprestado um trecho de um artigo que ele escreveu:
“Essa faixa da sociedade foi a grande prejudicada pelas políticas do
governo , ou antes, são as menos prestigiadas: é o pessoal que não recebe
subsídio pra comprar casa, paga a escola do filho ( nessa escola paga o lanche,
o material didático, o uniforme, os passeios ) , a prestação dos carros, o IPTU
altíssimo, não recebe bolsa família, tem que registrar a empregada doméstica,
não tem cotas para entar na faculdade, não tem direito ao PROUNI.”
Tudo isso assim escrito
de supetão faz até o leitor achar que eu sou contra manifestações pelos
direitos do povo. Mas temos aí no meio dessas vozes miutos povos, e é necessário
separar o trigo do joio – aqui o provérbio vem invertido de propósito. A começar
por uma questão que me chama bastante a atenção: será que a população que
marcha nas ruas hoje não tinha motivo mais que suficiente para ter ido às ruas
antes?
Com tantos casos de
corrupção como o mensalão e a continuação de culpados no congresso, com
deputados e vereadores que escarnecem do povo na maior desfaçatez como é o caso
do pastor Feliciano etc. E no entanto o povo só saiu agora ás ruas às vésperas
da Copa do Mundo? Ou seja, nada acontece por acaso mesmo...
Em meio a essa massa disforme que toma todos os
centros urbanos de nossa pátria vamos destacar alguns que conseguimos
identificar nesse mar de tinta verde e amarelo com um pouquinho de lama e gás
lacrimogêneo. Primeiro já localizamos os filhos da classe média, as mesmas
crianças vindas dos ventres das mães que tiveram os bens saqueados no governo
Collor e ensinaram aos seus filhos o que se deve fazer se seu cofrinho for
quebrado.
Uma segunda turma
que passou a se instalar nas manifestações e que agora batem cartão são os
grupos que representam os partidos políticos, inclusive o partido da situação,
o mesmo partido no qual a massa exige mudanças. Esses oportunistas batem no
peito e apregoam que estão com o povo e depois vão dizer que iniciaram o
movimento para as futuras reformas que quiçá acontecerão. Eis-me aqui para mais
um adendo: sou a favor de qualquer manifestação popular e considero a política
partidária de extrema importância na manutenção da democracia. Mas querer se
aproveitar de todo esse estado de coisas pra se promover é inadimissível. Sem proibição
e sem violência com os representantes dos partidos políticos.
Falo da violência
porque ví várias ocorrências entre participantes da passeata agindo de forma
hostil e extremamente violenta com manifestantes que hasteavam bandeiras de
diversas legendas partidárias. Inclusive um grupo denominado “nacionalistas”
eram os mais radicais. Por isso é sempre bom andar pra frente sem nos esquecermos
de olhar de vez em quando para trás. A extinção de partidos políticos leva, a
longo ou curto prazos para ditaduras. Fascismo e Nazismo eram sobretudo
ditaduras sem partidos políticos e o regime militar que nos desgovernou por
mais de duas décadas também, muito embora sempre tem alguém que afirma o
contrário ( um neto de general ou um
correligionário órfão ).
E por falar em
violência, mais um pouquinho da dita cuja, caracterizada através do grupo que
depreda o patrimônio, seja esse patrimônio público ou privado. Aí nós vamos ter
algumas subdivisões desse grupo. O primeiro subgrupo é composto do pessoal que
realmente não tem um objetivo definido e se infiltra nesses atos para
extravasar uma violência contida que de certa maneira é fruto do nosso próprio
meio, muito embora o cidadão não faça questão de mantê-la quieta. É gente que
quer brigar, bater, machucar, destruir. Não os chamo de anarquistas pois vejo
isso como um termo político. Também não os chamo de punks, mas classifico-os
como vândalos. E temos o segundo subgrupo que é inteirado politicamente e de
ideologia de esquerda radical. Eles depredam o patrimônio público pois não
acreditam em negociação da parte das instituições se não se mostrarem
perniciosos caso isso seja necessário. É como diz aquela velha frase “não há
revolução sem derramamento de sangue”. O fato de uma parcela dos manifestantes
se sentarem sob uma estátua tida como ícone cultural já é uma atitude de
protesto. Quando ví as imagens da massa protestando no Palácio do Planalto aí
percebi que era algo muito maior. Parecia Revolução Francesa, a queda da Bastilha,
dadas as proporções.
Eu não poderia
deixar de de falar da polícia que está posta para cumprir seu papel. E no
estatuto da corporação está bem claro que a primeira tarefa da instituição é
defender o patrimônio. A polícia geralmente vai agir se houver alguma ameaça de
depredação. Mas, como no meio das manifestações em que todos buscam defender os
direitos do “povo” a polícia também o fará para defender os princípios de sua
corporação. É claro que depois que uma reporter do jornal Folha de São Paulo foi
alvejada com um tiro de bala de borracha no olho o jornal passou a enxergar com
outros olhos ( ! ) as manifestações. Acusam a polícia de abuso de poder. Não que
não haja, mas creio haver também abuso de quarto poder. Até porque os soldados
da polícia militar e/ou civil são tão precisados das exigências moral e
materiais que o povo pede e também essa mesma polícia tem seus atos refletidos
na opressão cotidiana de suburbanos das grandes cidades.
E por último
temos... o povo... ah, o povo... falo do cidadão que trabalha todos os dias,
que pega condução lotada, bate cartão de ponto, curte seu futebol e sua novela
e não sabe muito bem o que está acontecendo, quase sempre refém dos prognósticos
e julgamentos da televisão e de outras grandes mídias. Esse povo é quem digere
as informações que as mídias golpistas enfiam goela abaixo e depois ele arrota
sem nem mesmo se lembrar o que foi que ele comeu. Esse povo é que preocupa. É o
mesmo povo que corre pro banco pra resgatar o dinheiro da possível suspensão do
bolsa família e depois fica sabendo que era trote. Tudo isso ao mesmo tempo?
Veja só quanta coisa tem dentro dessa panela de pressão?
Diante de tudo isso
e um pouco mais o único conselho que dou é o seguinte: de todos os governos não
há pior do que aquele que tenta agradar a todos. Cuidado com os populistas de
plantão, cuidado com a extrema direita em pele de cordeiro evangélico, cuidado
com a direita que se mostra apartidária e cuidado com a esquerda canhota. E, se
mesmo diante de todo esse cuidado nada mais der certo, faça uma manifestação
pelos seus direitos pois pode estar certo de que você é a minoria/maioria.
Ótimo texto, excelente painel.
ResponderExcluirEssas nossas considerações estão melhores que as publicadas pela mídia golpista. E não vou aceitar que me chamem de "imprensa marron", imprensa afrodescendente pode....
ExcluirPodemos todos protestar, depois do expediente, claro, depois que produzimos durante o dia inteiro. Geramos a riqueza, geramos o lucro (que já foi chamado de mais valia, palavra velha e pouco utilizada). Afinal, quem sou eu? quem somos nós?
ResponderExcluirQuero bloquear a Dutra, a fruta, o porto, o parto, a chuva a internet.
Só pra ver se alguém se mexe...
Eu acho é pouco tudo o que tá acontecendo! Tem deputado pedindo tiro na testa...
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