Um Toque no Rock
É inegável a influência que as redes sociais exercem sobre a sociedade pós-moderna, para o bem ou para o mal. Faz-se amigos de um momento para o outro, divide-se intimidades com antípodas e descobre-se pessoas com predileções e antipatias semelhantes a sua. É assim com quase todos os usuários das redes virtuais, mundo do qual também dedico um tempo.
No entanto, o mesmo universo que liberta pode escravizar e acirrar preconceitos, reforçar estigmas e até provocar inimizades, ao menos via computador, muito embora a grande maioria utilitária do serviço citado não o faz exatamente para tal propósito.
Pois bem: eu sou um fã de Rock. E o que é um fã senão indivíduo interessado por determinado assunto a ponto de querer saber mais sobre ele em comparação a maioria? Sou um fã de Rock estudante do assunto, exploratório do repertório dos músicos, interessado nas traduções das letras, de ideias e ideais por trás dos textos das canções, hábitos quiçá herdados de minha natureza professoral, onde a didática está par i passu com as verdades históricas e suas múltiplas interpretações. E nesse desejo de adquirir maiores conhecimentos acerca do assunto supracitado, enveredei nos diversos grupos de discussão do tema, tando objetivando coletar informações para ampliar meus horizontes musicais quanto transferir a outrem alguma matéria considerada por mim auspiciosa.

Após o incidente, decidi prosseguir em outras comunidades ser relatar o ocorrido, mas já visualizando com maior pragmatismo o Rock, seus fãs e as letras das canções, o que me levou a conclusões bem decepcionantes com o público médio amantes do estilo musical. Público este que à rigor se considera de inteligência superior a quem escuta outro tipo de música e que superestima o Rock sem fazer uma análise menos apaixonada. Como tal público considera tanto sua música séria,decidi construir aqui um breve contraponto observando tal ritmo musical com o mesmo grau de seriedade atribuído pelos admiradores. Relutei consideravelmente para publicar esse texto mas um cego fã de Rock considero-me um pesquisador, um quase cientista, atestando que o objeto de estudo deve ser esmiuçado com menor nível de subjetividade possível. E foi o que intentei fazer, embora não usei de estatísticas em registros, apenas me fiz valer de uns trinta anos de contato e observação com tal universo, de modo que esse tempo deva valer para alguma coisa.

Nos primórdios da década de 1950 a música que os afro americanos cantavam e tocavam era chamada de Rhythm and Blues ( R&B), um primo aproximadíssimo daquilo que viria a ser Rock'n'Roll. Aliás, tão próximo que muitos já o consideravam Rock. Embora o ritmo fosse pulsante havia alguns "probleminhas" que impediam que a música no início tivesse uma penetração no mercado fonográfico primeiro porque os intérpretes eram negros cantando num país ainda bem arraigado na tradição Wasp. Segundo, o conteúdo das letras: a própria expressão Rock'n'Roll significava prática sexual. É importante se considerar o quadro socioeconômico norte americano em tempo. Os Estados Unidos, vencedores da Segunda Guerra passavam pelo Baby Boom, a geração da pungência econômica onde as pessoas mantinham seus capitais sobre controle com a esperança de se investir em outros produtos e diversões. Tais períodos de riqueza econômica favorece também à ociosidade e por tabela a um relativo hedonismo, refletido nas letras do Rock em seu primeiro momento. Havia desejo pelos grandes veículos automotivos ( Chuck Berry com Maybellene, The Motorclycle Man, Floyd Robinson ); a paquera das "novinhas" ( Sweet Little Sixteen, Chuck Berry ), sonhos de guitarras, jóias e roupas caras. E tudo isso regado com músicas que faziam chacoalhar braços, pernas e bunda como a inocente Tutti Frutti.


E mesmo com uma campanha quanto ao término da segregação racial, como os Beatles não se apresentarem em lugares com tais legislações, o Rock não refletiu esses objetivos com seus nomes em destaque, excetuando um ou outro músico. E foi percebendo que o negro perdera espaço dentro daquilo por ele mesmo inventado que Berry Gordy decidiu abrir uma gravadora só com artistas negros -a Motown , desprovida é bem verdade de uma preocupação social ou racial mais radical, objetivava sobretudo ganhar dinheiro a princípio e foi bem sucedido nessa empreitada. Alguns anos adiante, estoura o movimento Black Power e com ele diversos cantores negros com temáticas politizadas à etnia como James Borwn e Ottis Redding, reforçando mais uma vez a grande criatividade do afro americano que saía do Rock mas reavivava a Soul Music, o Funk, o Reggae e até futuramente a Disco.
Outro ponto fundamental para compreender o Rock e saber onde ele chegou são as drogas. Na década de 1960 nos Estados Unidos era comum usá-las como se fossem chicletes. Há quem as considerava responsáveis por expandir a mente, e de certa forma era o que realmente ocorria, e isso recaiu no Rock e maneira ímpar pois o ritmo jamais foi o mesmo. Dessas viagens desenvolveu-se vários outros subgêneros do Rock com destaque para dois: O Heavy Metal e o Rock Progressivo.
De todos os subgêneros surgidos no Rock o Heavy Metal é sem dúvida o que agrega o público mais intransigente e reacionário. Para o fã de Heavy Metal nada é melhor do que sua própria música e quase nunca o ouvinte deseja ouvir algo que não se assemelhe ao que seu ouvido já escutou. A aceleração utilizada pelo guitarrista em seu instrumento é sinônimo de técnica e qualidade sonora. Um adendo: no velho mundo valores tradicionais das religiões foram integrados há mais de mil anos, bem como todo um mar de hipocrisia e corrupção advindo deles. Daí o curtidor de Metal ser contrário às religiões, ateu ou satanista - ( eis aí seu papel social ) - e faz dessa postura elementos nas letras das canções.
A outra grande falácia repetida ad nauseam no meio da comunidade rocker é que o Rock é liberdade. Mas para quem? Quase sempre o rocker faz uso dessa frase para reproduzir posturas relacionadas a um estado opressor numa sociedade competidora onde ter uma motocicleta milionária e participar de um clube, beber muita cerveja importada e comportar-se com misoginia é o padrão de liberdade desse sujeito. Não é à toa que em países de "cultura fechada" tentou-se por muito tempo proibir a difusão do Rock, não pel ritmo mas pelos valores a ele agregados. Reconheço que a sonoridade produzida no Rock, Hard ou Heavy Metal e outros subgêneros traga algo sensorial de liberdade. mas dizer que essa música é mais intelectualizada que outras por ter mais mensagem não convém. Bandas como Led Zeppelin e AC/DC tem instrumentação e vocais poderosos, porém as letras de suas canções são triviais, quando não falam de bebidas, estrada, mulheres - a liberdade já citada.
Há os apreciadores de outro subgênero do Rock conhecido como Progressivo. Produzido por quem realmente "entende" de música, ou seja, alunos que vêm de conservatórios musicais que lêm partituras, que tem reconhecimento de música erudita, sobretudo dinheiro para bancar tudo isso. O apreciador de Rock Progressivo é quase um autista, um Robinson Crusoé na ilha de Yes, Genesis, Emerson Lake & Palmer e quejandos. Presta tanta atenção nos acordes que não pode sequer pular num show de Rock. A música é elevada ao estato de quase Jazz, com a fundamental diferença: nenhum negro está na banda. Em suma: música para músicos.

Diante do exposto e do que mais poderia ter sido relatado é que o Rock pode ser contestação ou alienação; música de bunda e/ou cérebro. Pode ser erudito sem ser pedante e se for liberdade é possível se valer de reflexão, de crítica, de autocrítica, como aqui nesse breve texto. Mas antes de tudo o Rock é música. Se se quer levá-lo a sério poderá se tornar outra coisa. Fica a dica aos intelectuóides roqueiros e as futuras gerações. Com preguiça não se lê livros mas a música é diversão em primeiro lugar.
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