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domingo, 31 de março de 2013

Horas Mortas


   O corre-corre do cotidiano de quem vive nas grandes cidades muitas vezes provoca nossa chegada fora do horário habitual em nossos lares (isso quando a gente consegue voltar).  Trânsito infernal, duplas jornadas de trabalho, uma cervejinha a mais no bar, um beijo fora de hora e coisas do tipo... Isso faz com que a gente se arrisque trafegar nos cantos escuros das avenidas e sejamos alvos fáceis de “desocupados” de plantão. E, conforme mais as horas vão avançando, mais a ironia fina desses desocupados torna-se menos sutil.

   Pode reparar: se estiver na rua entre as onze e meia e meia noite cruzará seu caminho um transeunte que te vai perguntar as horas. Detalhe: ele não viu nenhum relógio em seu pulso! Obviamente você vai dizer que não tem horas e seguir adiante  sem muita preocupação.  Nessa situação deve andar entre velocidade média e moderada.

   Já pelas onze e meia e meia noite vem outro daqueles sujeitinhos em seu encalço inquirindo-lhe se tem algum cigarro. Você pode até dizer que não fuma e sair de fininho, ou não. É quase consenso de que nenhum fumante deixa outro fumante passando vontade. Aí o camarada vai pegar o cigarro no bolso ou na bolsa e então vai te pedir a carteira também... Deve sair dali em velocidade de moderada a aceleração certeira.
  Das zero horas até a meia noite e meia é o momento de o cara que diz ter perdido o último ônibus ou inventa outra história escabrosa etc. e tal...  O fato é que ele quer algum dinheiro “emprestado!” Putz! Como ele pode pedir emprestado se você nem o conhece de modo que não haverá possibilidade de ele lhe pagar. O negócio é dizer que não tem dinheiro nenhum e se mandar dali o quanto antes. Saia dessa em velocidade acelerada com compostura.

 Agora, se da meia noite e meia em diante você ainda estiver  na rua é porque está mesmo facilitando. O próximo transeunte que você encontrar virá correndo em sua direção e aí pode ter certeza que ele não vai querer saber das horas, tampouco buscará um cigarro ou um troquinho para pegar o ônibus...  Saia dessa situação em velocidade de total descompostura é claro.

   Basicamente o grau de periculosidade de estar até tarde da noite na rua é esse e... Ué? Cadê minha carteira?

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