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terça-feira, 19 de agosto de 2014

No Coletivo

No Coletivo


 
   Sete horas da noite. Fim de mais um rotineiro dia de semana. Retornavam as suas respectivas residências a multidão de trabalhadores citadinos, muitos deles em seus automóveis construindo congestionamento. Entretanto em sua maioria operários, proletários espoliados se apertavam dentro de ônibus semelhante às sardinhas enlatadas.
   E mais um coletivo estacionou numa parada. Na roleta onde se paga a tarifa atravessavam diversos passageiros como de hábito. Ao chegar à vez de uma senhora obesa esta atravessou sem pagar. O cobrador no instante meio despercebido mas notou a tempo de olhar a mulher meio torto. E quando a gorda percebeu o aborrecimento do homem, esclareceu:
 _ Seu cobrador, é meu marido quem vai pagar a minha passagem.
  
Tranquilidade toda para o trocador afinal. Prova de que não tinha sido logrado por um passageiro espertalhão. Continuou o homem então a receber o dinheiro dos passageiros. Após a senhora gorda atravessar a roleta uma mulher magra e dois fedelhos entraram, um jovem muito jovem para ser o marido da senhora devedora da passagem seguiu e também um velhinho deveras senil para ser seu esposo: cada qual pagando sua própria passagem. O lotação seguiu sua viagem sem maiores problemas.
   Onde andaria então o suposto esposo daquela senhora de elevado índice de massa corpórea?  O cobrador enervou-se. De seu assento ainda pode avistar passageira esparrachada no banco na maior desfaçatez, na opinião do homem. O cobrador na decepção moral e financeira, então começou a pensar em seu salário: mixaria. Tinha medo do mundo. Inflação, custo de vida... Onde as coisas vão parar?

   Foi o suficiente para o homem explodir. Bradando de seu banco ele reclamou:
   _ Esse pessoal... É descarado! O povo desse país é sacana, só se preocupa em passar a perna nos outros! – e vigorosamente ironizou – Essa baleia em forma de gente é quem diga!
    A baleia, ou melhor, a mulher sabendo se tratar dela o mamífero em questão e percebendo a fúria do edil cobrador no exercício de sua função, virou-se a ele e retrucou:
   _ Senhor, fica chateado, não. Meu marido pagará minha passagem sim só que ele vai entrar nesse ônibus daqui a duas próximas paradas.
   O cobrador surpreendeu-se e foi aos poucos se aclamando até desaparecer dentro de seu uniforme azul.
   Nisso o coletivo prosseguiu seu trajeto. Se o esposo daquela senhora obesa tomou a descrita condução e pagou a famigerada tarifa eu desconheço. Desci um ponto antes da consumação do incidente...

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