No Coletivo
Sete horas da noite.
Fim de mais um rotineiro dia de semana. Retornavam as suas respectivas residências
a multidão de trabalhadores citadinos, muitos deles em seus automóveis
construindo congestionamento. Entretanto em sua maioria operários, proletários
espoliados se apertavam dentro de ônibus semelhante às sardinhas enlatadas.
E mais um coletivo
estacionou numa parada. Na roleta onde se paga a tarifa atravessavam diversos
passageiros como de hábito. Ao chegar à vez de uma senhora obesa esta
atravessou sem pagar. O cobrador no instante meio despercebido mas notou a
tempo de olhar a mulher meio torto. E quando a gorda percebeu o aborrecimento
do homem, esclareceu:
_ Seu cobrador, é meu
marido quem vai pagar a minha passagem.
Onde andaria então o
suposto esposo daquela senhora de elevado índice de massa corpórea? O cobrador enervou-se. De seu assento ainda
pode avistar passageira esparrachada no banco na maior desfaçatez, na opinião
do homem. O cobrador na decepção moral e financeira, então começou a pensar em
seu salário: mixaria. Tinha medo do mundo. Inflação, custo de vida... Onde as
coisas vão parar?
Foi o suficiente
para o homem explodir. Bradando de seu banco ele reclamou:
_ Esse pessoal... É
descarado! O povo desse país é sacana, só se preocupa em passar a perna nos
outros! – e vigorosamente ironizou – Essa baleia em forma de gente é quem diga!
A baleia, ou
melhor, a mulher sabendo se tratar dela o mamífero em questão e percebendo a
fúria do edil cobrador no exercício de sua função, virou-se a ele e retrucou:
_ Senhor, fica
chateado, não. Meu marido pagará minha passagem sim só que ele vai entrar nesse
ônibus daqui a duas próximas paradas.
O cobrador
surpreendeu-se e foi aos poucos se aclamando até desaparecer dentro de seu
uniforme azul.
Nisso o coletivo
prosseguiu seu trajeto. Se o esposo daquela senhora obesa tomou a descrita
condução e pagou a famigerada tarifa eu desconheço. Desci um ponto antes da
consumação do incidente...
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