drops rock

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Conto de F...da

   Toda malícia resume-se, camufla-se atrás do olhar inocente. Noutras vezes um jeito desleixado e politicamente incorreto no trato às mulheres pode conter no íntimo uma timidez singular. Reconheço: nunca fui santo. Com as artimanhas dos adolescentes conhecidos mais pervertidos fui crescendo. Fiquei corpulento e desajeitado. O volume na calça jeans fazia-me corar. Verdadeira aflição lidar com a mudança. Mas mudava. Pensamentos sensuais resultado no lençol. A mãe fazia vista grossa. E o tempo embora indo. Ampulheta por ampulheta. E passaram-se meus quinze anos. Cheguei aos vinte e hoje quase vinte e cinco. Sou homem feito ou desfeito em alguns assuntos.  A incompreensão embriaga-me alguns momentos. Como pude passar tanto tempo sem arrastar uma mulher? E arrastar é burlir, invadir a intimidade de uma fêmea. Não finjo ou forjo desculpas. Casa pequena, poucos namoros ou namoros curtos, escassas farras somado ao to de deboche de minhas atitudes. Talvez o jeito com que me expresse verbalmente. Às vezes brincalhão ao excesso, noutras taciturno e responsável. Preciso atingir o meio termo antes que meu extremo atinja o meio. O desejo da transa me queima, arde-me e é tão normal! Creio que todos os homens “normais” sintam isso, mas sei ainda que esses mesmos homens conseguem saciar suas vontades. Não podia sufocar-me com tal sigilo. Desabafei com meu melhor amigo. Aliás concluí que queria porque queria ter uma relação íntima com uma garota . Minha virgindade já era assunto entre os mais conhecidos para meu desalento. 
   E foi cansado de ficar na mão – e ficar na mão aqui em sentido ambíguo- que conheci Júlia numa festa, dessas festas quaisqeres. Bêbada como não deixava de serem as degeneradas. Embora seu hálito estivesse degradante mantinha uma beleza especial. Reparei seu corpo, muito gostoso por sinal. Uns seios robustos e convidativos. Pernas que quiçá andaram por muitos matagais por aí, imaginei. Como sou maldoso! Mas quem não seria?
   Conversa muita, ação nenhuma. Ainda assim tentei a sorte andando rumo norte. Foi em vão. Xinguei um palavrão.  No dia seguinte, mesmo sem questionar acabei recebendo as más novas da forasteira. Viera de outro estado, mora de favores na casa de uma parenta.  Saíra de sua cidade natal por má conduta emocional, ou antes, sexual. Pertencia ao rol das "desajustadas”. Se alguém a desejasse não o seria por todo o sempre. Ah, como eu fora tolo. Ainda titubeei algum escrúpulo da parte daquela vaca!... Perdão, o pobre animal não merece tamanho rebaixamento moral para a sua espécie.
  No fundo, no fundo, talvez meu sentimento fosse uma flamejante inveja incendiando meu peito. Como pode uma jovenzinha - sim, porque Júlia só tinha quinze anos – ter todos esses incidentes eróticos sendo uma mulher interiorana enquanto eu, um macho  e adulto com cara de mau e cheio de cicratizes não ter deitado com uma prostituta que fosse?!
   Mas aí estava a questão do escrúpulo. Jamais eu me deitaria com uma mulher da vida. O fato de pagar para ter uma ejaculação parecia-me um apelo muito ridículo. Só de pensar não sentia tesão. Por outro lado, qualquer puta me interessava, desde que me desse com todo prazer, sem os apelos financeiros encontrados na moderna mas lodosa sociedade capitalista. 
   Quando soube da novidade, da liberdade libidinosa de Júlia alcei minhas sobrancelhas. Dessa vez essa não iria escapar. Estudando minha árvore ginecológica Marina ficou com aquele chato na viagem à casa de praia. No acampamento segurei vela de muita gente, ou melhor, segurei lampião. Virgínia entrou para o convento e a Rita levou meu sorriso quando morreu por causa de problemas cardíacos. Na fazenda, nas férias, jamais em sã consciência usaria as cabras do avô para saciar meus instintos animalescos como faziam meus primos de lá de longe. O diabo é que até homossexual me ofereceu! Mas não era nada disso, o lance era mulher – fosse ela esquálida ou balofa , ruiva ou sarará, sei lá...  Eu queria, precisava, necessitava, urgenciava uma mamífera da espécie homo sapiens para jorrar o meu leite e Júlia parecia ser a presa certa.
   Ao contar meu desejo a um de meus colegas foi ele mesmo quem me falou:
   _ah, a Júlia? Ah, já comi. Ela quis me dar e foi em casa mesmo. Nossa!Como é macia!...
   Quase molhei a cueca. Suei-me. Só de pensar sentir meus dedos perseguindo cada curva voluptuosa daquela forma. Entretanto, com algo eu não contava. Este meu amigo dias idos desentendera-se com a moça. Antes porem dissera que eu queria ficar com ela. Na hora Júlia até se interessou só que depois da discussão de ambos ela decidiu voltar atrás pois isso de ficar comigo representaria consentir com seu não mais amigo. Mesmo assim fui teimoso. Saímos uma noite dessas de céu límpido a caminho de uma pizzaria afinal mesmo não ocorrendo nada ao menos tudo acabaria em pizza. Estávamos em turma até o momento de nos deixarem sozinhos dentro do carro. Assim o teatro abriu as cortinas. Investia com palavras, ela negava. Investia com gestos, ela olhava para fora. Investia com toques em sua pele, ela repelia. Investia finalmente com um beijo roubado, ela me fez desistir com uma tapa.
   _Ai!
   _Machucou?
  _Ainda não.
  _Você será capaz de tentar continuar?
   Eu me esquecera de dizer a ela que para evitar o estupro era necessário somente dizer “sim”. Meu amigo, esse outro, dono do carro, já sabia de minhas intenções com Júlia e me apoiava. Tanto que resolveu dirigir para uma estrada deserta e sem luz, às desoras da noite.  Captei reação alguma de Júlia, parecia até que gozava com aquilo. Até que meu amigo deu ré e retornamos para casa...
   Na noite anterior nada dera certo. Nada dera. Nem Júlia dera. As madrugadas vindouras mostraram-se difíceis para mim. Andava obcecado. Queria Júlia da maneira que fosse. Absurdo todos ali terem-na nos braços e sentirem sua volúpia menos eu. Tal situação trazia inconformismo.  Pensava em pegá-la à força. Dado momento me relampeou um truque. Seria mesmo à força. Involuntariamente...
   Todos sabiam da ninfomania daquela garota daí concluí que qualquer homem transaria com ela, até meu melhor amigo, bastava convencê-lo de aceitar chamá-la pra um motel ela aceitaria sem sombra de dúvida. E onde eu entraria nessa história? Ora... No banco de trás do carro...


   Muita trepidação na estrada de terra, principalmente é sensível às lombadas quando se viaja debaixo do banco traseiro de um fusca. Que situação desconfortável. Foi por pouco tempo. Mas eu suei, me amassei, peidei, enfim, foi duro. Meu amigo desceu do carro junto à Júlia que já lambia os beiços, não por se tratar daquele cara mas pelo glamour de ir num motel pois jamais visitara um em sua cidade. Lá os meninos chamam de “matel” por ser mesmo no mato.
   Meu amigo se recusava a deitar com a moça. Ele simplesmente apagaria a luz do quarto e me chamaria. Depois do fato consumado acenderíamos os holofotes e o riso tomaria conta do recinto. Minha vingança estaria tomada. Aquela vadia não era mulher de copular para esse meu amigo que já era muito experiente, apenas se divertia com tudo aquilo. Dizia que não valia a pena se envolver com um espírito tão inferior como o da estirpe de Júlia. Eu pensava em tudo isso minutos antes de descer do carro. Aquela seria a minha primeira relação sexual, ao mesmo tempo porque considerar um acontecimento tão célebre e escolher uma criatura deveras inútil e desprezível? Será que eu não estaria exagerando na ânsia de cumprir um papel social que o mundo me impunha? Era o lado individual e o coletivo zanzando em minha cabeça. Poderia ser aquela uma experiência traumática para o resto de minha vida. E se os poréns realmente cruzassem meu destino? E se a vagina daquela adolescente fosse mesmo macia a ponto de eu confundir desejo com amor e me apegar aquela messalina?
   Caramba! Meuá amigo estava demorando. Será que com toda aquela demora teria decidido voltar atrás e metido com ela?
   É... Meu amigo estava realmente se demorando na alcova. Talvez tivesse se esquecido de mim com tudo aquilo em sua frente. Não, ele não poderia ter me traído, ou pelo menos traído a minha confiança. Minha paciência no fim. Levantei do carro e caminhei até a porta. Coloquei meu ouvido próximo à porta do quarto. Aí me veio infeliz palpite: vozes. Sussurros, gemidos, urros! Não aguentei e abri a porta que meu amigo deixara sem a tranca. Quando entrei meu amigo esparrachado na cama assistindo filme pornô.
   _Cadê? Cadê a Júlia?
   _Quê que cê tá fazendo aqui, seu panaca? Espera lá fora. Olha, ela tá na sauna, quer ver?
   Ele abriu a porta da sala da hidromassagem e pude ver Júlia através dos espelhos retrovisores das paredes laterais nadando como um peixinho, mergulhando como um submarino amarelo, maravilhosa... Mas eu podia ficar apenas admirando aquele corpo moreno sem poder fazer uma massagem de onze dedos sequer!
   _ Tá demorando por quê? – inquiri.
   _ cara, ela não quer que eu apague a luz. Ficou impressionada com a decoração do quarto!
   _ Idiota! Da próxima vez vê se procura um motel mais ralé.
   _ O papo tá bom mas é melhor você voltar lá pra fora. Aguenta mais um pouquinho até ela pegar no sono aí você entra e eu saio.
   Então retornei.
   E, depois de muito titubear afinal eu me decidia. Não iria mais fazer aquilo.  Meu tesão poderia esperar. O ser humano por mais instintivo que seja pode controlar suas vontades. Qualquer garota não valeria a pena. Somente por vaidade? Só porque o mundo inteiro comeu Júlia? Ora, eu não era o mundo inteiro! Era um homem virgem mas um homem reflexivo, um filósofo...
   Tam! Tam! Tam!
  _ E aí? Vâmo? Desce do carro!
  _ Olha, não é por nada não...
    Meu amigo, de cabelo em pé, desacreditava das minhas palavras. Xingou-me de veado pra baixo. Disse que se era pra ouvir merda... etc etc etc...
   _Ah, vai lá você e faz com ela.
   _ Eu? Eu não!
   _Qual o problema? Ela só é mais uma fêmea para um macho já iniciado, não para mim.
   _ mas ela não me atrai. Já deu pra todo mundo. Tenho até nojo. Pegar uma doença venérea? Eu, hein!
   Agora quem desacreditava era eu. Enfim, foi o tempo de piscar de olhos ele entrou no quarto. Uns vinte minutos mais ou menos ele voltou.
   _ E aí?
   _ Não teve jeito, ela não quis me entender e saiu pela porta de trás do quarto. Vestiu a calcinha, o sutiã, a calça, a miniblusa, pegou seus badulaques e foi-se embora. Agora você pode se sentar no banco da frente do carro à vontade, não precisa ficar escondido aí no fundão, não...
   _ O quê? Sair do motel com você dentro do fusca? Ora, vá se foder! Eu vou ficar debaixo do banco mesmo.
   Assim ganhamos a estrada.
   Passado aquela conturbada noite minha vida continuou a mesma. Ainda sou o mesmo homem malicioso porém virgem e que quer sentir o prazer do sexo.
   Meu amigo é que já não é o mesmo. Júlia, despossuindo qualquer escrúpulo, espalhou aos quatro cantos que ele a levara no motel mas não soubera o que fazer. Tornou-se bicha pela boca de alguns malditos...


Verão de 1999



quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Drops Rock 55 - Futebol




   Drops Rock 55 mostra a seleção de craques do Rock. Será que o ritmo musical tem alguma coisa a ver com a bola no pé? Olha que isso pode dar samba! A verdade é que se o Brasil é o país do futebol alguém mentiu, entende?

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Drops Rock 54 - Rock Instrumental



   Será que todas os rocks precisam ter letra? Será que tem cantor que atrapalha a melodia da música? Pode ser que esse programa não responda essas dúvidas, mas que ele mostra como é bacana um som instrumental mostra!

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Não se Lava as Mãos à Falta de Água



   Uma das grandes dificuldades que a humanidade enfrentará no século XXI está relacionada com a escassez de recursos naturais. Desde a Revolução Industrial até os nossos dias o homem se tornou seu principal predador devastando toda a mata, extinguindo diversas espécies de animais e acabando com todos os recursos naturais sem grandes preocupações quanto à escassez dos mesmos. Dentre todas as riquezas minerais a agia é o bem natural que merece maior atenção sobretudo pela pouca quantidade de água potável existente no mundo e pela enorme quantia consumida nos grandes centros urbanos. Aqui no Brasil, principalmente no estado de São Paulo, a falta de chuva chegou a um nível recorde. O índice pluviométrico foi o mais baixo registrado nos últimos 50 anos.
   Entretanto, quando se atenta ao problema da falta de água depara-se sempre a campanhas governamentais que insistem em cobrar do consumidor comum um uso mais racional da água lançando mão de campanhas publicitárias no rádio, na televisão, nos outdoors etc. chegando até o extremo de reajustar as tarifas de água ou de bonificar ao consumidor que economizou. Sabe-se, por outro lado, que os maiores usuários desse recurso natural são os latifundiários e as grandes empresas, em destaque as de papel e celulose. Para se ter uma ideia vinte e sete litros de água são usados para se fazer uma folha de papel.

   Ultimamente tem se cogitado a possibilidade de despoluir o Rio Tietê e multar todas as indústrias que depositam seus resíduos no rio. É claro que tudo isso é favorável, porém só agora em que a escassez se faz preocupante é que as autoridades governamentais decidem tomar uma atitude emergencial, diferente do que vemos em outros países no que se refere a desastres naturais onde existe prevenção e a nação consegue superar tais catástrofes – o Japão é o exemplo mais emblemático dessa ilustração.
   Outro grande entrave para investimento na obtenção de maiores recursos hídrico é que tais projetos não são obras que se mostram à vista, não são projetos que “puxam voto”.  Investir em saneamento básico é bem menos visível aos olhos do eleitor do que construir viadutos ou asfaltar ruas. Todos os anos há na cidade de São Paulo uma série de alagamentos e enchentes com as mesmas características e as mesmas promessas de resolução.
   Diante do exposto, a solução mais viável é que os governos municipais, estadual e federal invistam em projetos governamentais que visem à prevenção de desastres naturais, sejam estes enchentes ou estiagem de chuva, poluição, desmoronamentos de moradias de alto risco etc. Quando esses problemas saírem da pauta de medidas paliativas não haverá mais incidentes dessa natureza nem em São Paulo nem em outras cidades do Brasil. 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Vamos Todos à Bienal do Livro Para não Ler


   Iniciou nesse sábado, 23 de agosto a 23ª Bienal internacional do Livro em São Paulo, lá no Anhembi como todo mundo sabe.  E digo “todo mundo” dada a multidão que pude acompanhar quando fui ao evento no domingo último. Chega-se a conclusão de que se o brasileiro não lê pelo menos livro ele compra.  Não que eu tenha nada contra a sociedade de consumo e nem hasteio aqui a bandeira em favor do meio ambiente e das árvores que são mortas em detrimento da produção de folhas de papel para a confecção de livros, até porque também sou um ávido consumidor que certamente tem muito mais livro que não leu em casa do que o contrário.

   Na verdade acredito até que a sociedade brasileira lê bem mais hoje do que há vinte anos. Também aqui não está se levantando a questão da disseminação de analfabetos, muito porque o analfabetismo funcional vigora para a tristeza geral. Falo do consumo de Literatura e tal Arte tem o sentido muito mais amplo. A gente pode falar de Machado de Assis, E. L. James, J.R.R. Tolkien, R. R. Soares – kkk -, Jô Soares, Shakespeare, Mauricio de Sousa, Cordel e colocar tudo num mesmo pacote. Mas quando falamos de uma sociedade industrial e de consumo tudo se torna mercadoria e perfumaria, e com a Literatura não seria diferente.
   Livros campeões de vendas geralmente são trilogias, quadrilogias em que cada tomo nos toma um tremendo tempo para lê-lo pois cada um geralmente é composto de trezentas páginas. Tudo bem, até reconheço que os romances russos nunca foram curtos mas são ROMANCES RUSSOS, assim mesmo, em letras garrafais.  Os meios de comunicação cibernética, as redes sociais nos computadores, o hábito de se escrever e receber e-mails, o twiter, o facebook e os blogs como esse em que esse texto é postado são grandes responsáveis pela produção escrita de nosso tempo, que por hora pode não ser duradoura, apaga-se como se deleta os spams, mas daqui a alguns anos será essa literatura que será objeto de estudo de nossa língua e de nossa produção artística do idioma.
   E porque ter que cobrar de um país que tem quinhentos anos e que sociedade letrada não passa pouco mais de duzentos? A Literatura produzida e distribuída aqui na nossa Pindorama deu-se através do José de Alencar e seus colegas de movimento romântico literário lá em meados do século XVIII. Tomemos como exemplo de comparação com a Europa, o velho mundo cuja formação de estados enquanto nação dá-se nos séculos X, XII. Para se ter uma ideia na Inglaterra tem-se uma Universidade denominada New College datada de 1300! Quantos séculos deverá ter o Old College?  Até e questão climática beneficia o cidadão europeu a desenvolver o hábito da leitura. Em frios homéricos onde a neve impede até a pessoa a sair de casa o que fazer se não ler? Claro que estou me referindo a outros tempos em que não se exista computador nem televisão. Ma s tais hábitos são culturais, são cultivados pelo tempo. Aqui no Brasil basta aparecer um feriado prolongado que o Brasileiro desce pra praia e a única coisa que lê é o mapa para consultar qual o caminha mais rápido ao litoral.
      Por outro lado admiro a juventude que vê no escritor um pop star e o cultuam como se assim o fosse.
Hoje Mauricio de Sousa e Ziraldo representam muito mais a infância e juventude do que Monteiro Lobato, o que é louvável pois tem criança que mal sabe o que é uma galinha, o que dirá de um sítio. O problema é quando as personalidades do mundo da moda ou da música por exemplo se apropriam do mundo das letras e lançam livros e se dizem filósofos. Quando me deparei com a multidão seguindo o cantor de Funk Melody
chamado Naldo Benny me perguntei o que o mesmo estava fazendo ali na bienal e se a mesma estava inovando com shows de música. Não era nada disso. Naldo lançava um livro que disseram que ele mesmo escrevera. É importante defender o direito de ele e de qualquer um escrever um livro mas é mais importante ainda frisar que isso não faz da celebridade sinônimo de filosofia a colocarmos no mesmo panteão de Marilena Chauí ou Mário Sérgio Cortella só para citar algum exemplo.

No mais fica a dica de que a Bienal é um espaço muito mais dedicado à venda de livros do que a promulgação de debates, na minha estreita visão. Mesmo os livros vendidos lá não estão com descontos em relação aos mesmos que são encontrados pelas livrarias afora. Em suma a Bienal é uma feira de livros onde todas as editoras fazem a festa com a diferença de que lá você pode encontar o escritor de quem você é fã, aguardar numa fila quilométrica mais ou menos duas horas, receber seu livro autografado e até falara de Literatura...

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Quase uma Lição



   Entro pela sala de aula pela primeira vez e ainda que nunca tenha pisado os pés na escola pública para lecionar já trago comigo relatos de profissionais do ramo nada agradáveis no tocante ao aprendizado dos alunos e sobretudo pela indisciplina dos mesmos. Mas eu estava ali pela crença em minha capacidade de persuasão, pelo pendor em tentar ensinar alguma coisa, ainda que como professor substituto. E todo oi conteúdo que intentava lecionar já estava ensaiado em minha mente e resguardado em meu coração. Iria ser uma aula de acolhimento e de reconhecimento da importância de cada aluno que ali buscava aprender e porque não ensinar?
   Mas não foi nada disso que aconteceu. Botei meus pés na sala e uma avalanche de barulho infestou meus ouvidos. Tinha aluno escutando música no celular sem os devidos fones, alunos conectados em redes sociais, alunos batucando pagode com as carteiras e até teve aluno me percebeu que eu estava na sala de aula. Tentei manter uma espécie de conversa com eles. No primeiro momento foi em vão. E em vão foi no segundo, no terceiro. Decidi me emudecer até que eles se envergonhassem o que funcionou. Diante daquele quadro resolvi alterar todo o discurso que ensaiara. Perguntei a eles se o professor também é educador no que a maioria que entendeu a indagação assentiu positivamente para que em seguida eu dissesse que não.
   O professor tem como dever lecionar o conteúdo acadêmico pertinente a grade curricular da respectiva série em que está lotado. É cine qua non a postura educacional do professor, ou seja, só o fato de o professor lecionar é mais do que um ato de educação. Mas existem professores educadores também, são aqueles que além de lecionar nas escolas de educação infantil trocam fraldas das criancinhas que estão na creche e ensina os pequenos a fazer xixi e coisas correlatas.
   Com isso deixei claro de que não estava ali na sala de aula para ensinar noções de como alguém deve se comportar, noções de modos e educação e que não me indisporia com eles por razões de indisciplina e desrespeito. E prossegui com a matéria escolar em meio a muita bagunça e grande desinteresse. Naquele mar de gente sempre tem aquele que realmente se interessa em aprender e aí eu reconheço quão a porta do céu é estreita.
   Terminada a aula vou à sala dos professores quiçá buscar alento, sentir-me um pouco mais humano dado à familiaridade dos colegas de profissão com os mesmos impasses. Sinto-me invisível na sala. Esboço cumprimentar um mestre da educação e aí me deparo com o paradoxo pois o sujeito pode ser “mestre” mas a educação passou a largo. Volto meus olhos aos exercícios dos alunos mas os ouvidos buscam as conversas do ambiente: o automóvel novo que se comprou, a academia (que não a de letras) , o fim de semana, o reajuste salarial, o acúmulo de cargos... Só não ouço falar de Educação, de metodologias de ensino, de um interesse no real exercício da função. Preferi então me manter invisível, enfiar a cabeça nos livros e não pensar em quem não quer pensar.
   Hoje repenso a situação quando assisto aos noticiosos que mostram a Educação Pública péssima. Quem a Faz assim?  Nem posso discutir com a categoria pois a mesma está muito mais preocupada com outros valore$.
   Quem disse que professor não tem que aprender está mui enganado. Tenho tido lições diariamente: lições de descortesia, de desunião e egoísmo num patamar que beira o insuportável. Se eu não sei bem o que fazer não é de quem sabe que eu obtenho respostas. Nem dinheiro e nem calma fazem parte de minha rotina. Ainda assim acredito que a Educação e o Estudo é o caminho, mesmo que para muitos esse caminho não leve a lugar nenhum...



terça-feira, 19 de agosto de 2014

As Boas do Sant'Anna - um blog especializado em generalidades: No Coletivo

As Boas do Sant'Anna - um blog especializado em generalidades: No Coletivo: No Coletivo      S ete horas da noite. Fim de mais um rotineiro dia de semana. Retornavam as suas respectivas residências a multidã...

No Coletivo

No Coletivo


 
   Sete horas da noite. Fim de mais um rotineiro dia de semana. Retornavam as suas respectivas residências a multidão de trabalhadores citadinos, muitos deles em seus automóveis construindo congestionamento. Entretanto em sua maioria operários, proletários espoliados se apertavam dentro de ônibus semelhante às sardinhas enlatadas.
   E mais um coletivo estacionou numa parada. Na roleta onde se paga a tarifa atravessavam diversos passageiros como de hábito. Ao chegar à vez de uma senhora obesa esta atravessou sem pagar. O cobrador no instante meio despercebido mas notou a tempo de olhar a mulher meio torto. E quando a gorda percebeu o aborrecimento do homem, esclareceu:
 _ Seu cobrador, é meu marido quem vai pagar a minha passagem.
  
Tranquilidade toda para o trocador afinal. Prova de que não tinha sido logrado por um passageiro espertalhão. Continuou o homem então a receber o dinheiro dos passageiros. Após a senhora gorda atravessar a roleta uma mulher magra e dois fedelhos entraram, um jovem muito jovem para ser o marido da senhora devedora da passagem seguiu e também um velhinho deveras senil para ser seu esposo: cada qual pagando sua própria passagem. O lotação seguiu sua viagem sem maiores problemas.
   Onde andaria então o suposto esposo daquela senhora de elevado índice de massa corpórea?  O cobrador enervou-se. De seu assento ainda pode avistar passageira esparrachada no banco na maior desfaçatez, na opinião do homem. O cobrador na decepção moral e financeira, então começou a pensar em seu salário: mixaria. Tinha medo do mundo. Inflação, custo de vida... Onde as coisas vão parar?

   Foi o suficiente para o homem explodir. Bradando de seu banco ele reclamou:
   _ Esse pessoal... É descarado! O povo desse país é sacana, só se preocupa em passar a perna nos outros! – e vigorosamente ironizou – Essa baleia em forma de gente é quem diga!
    A baleia, ou melhor, a mulher sabendo se tratar dela o mamífero em questão e percebendo a fúria do edil cobrador no exercício de sua função, virou-se a ele e retrucou:
   _ Senhor, fica chateado, não. Meu marido pagará minha passagem sim só que ele vai entrar nesse ônibus daqui a duas próximas paradas.
   O cobrador surpreendeu-se e foi aos poucos se aclamando até desaparecer dentro de seu uniforme azul.
   Nisso o coletivo prosseguiu seu trajeto. Se o esposo daquela senhora obesa tomou a descrita condução e pagou a famigerada tarifa eu desconheço. Desci um ponto antes da consumação do incidente...

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Quatro Ases e Um Curinga

Quatro Ases e um Curinga



Há uma luz no fim do Carven Club
Fui eu quem toquei harmônica em Love me Do
E usei a primeira peruca antes do ditame de Astrid Kircherr
Presenteei Paul com um contrabaixo de banana
E mostrei como as pedras rolavam
Eu é que andava atrás das câmeras de A Hard Day’s’ Nigth
E fiz Lennon gritar Help!
Inspirei Yesterday anteontem
E vendi meus anéis ao Ringo
Fui o primeiro a seer que McCartney estava folcloricamente morto
E emprestei  tela para Klauys Voorman pintar a capa de Revolver
Embora alertei Lennon acerca do título do disco
Seargent Peppers pras outras bandas era refresco
E fui o primeiro a falar com os Fab Four
No telefone camuflado nas estrelas de Magycal Mystery Tour
Fui em quem primiero caminhei nos Campos de Morango
E cortei os cabelos no barbeiro de Penny Lane
Adivinhe quem era a morsa?
Eu já enxergava a impureza do White Album
Só mesmo um submarino amarelo para acalmar
E dividir com Lucy um céu com diamantes
Ainda assim segurei o trânsito em Abbey Road
Queimei um incenso com George Harrison
Mas já era tarde
O fim iminente
Let it Be
Let it Bleed
E quem eu sou?



Eu sou Caetano Veloso. 

sábado, 5 de julho de 2014

Loiras na Alta Noite


  Eu estava perdido. Em Mogi das Cruzes, estado de São Paulo, dentro da rodoviária próxima ao centro comercial da cidade, mas perdido. Nessa época trabalhava no Shopping Center e era período das festas natalinas. E em tempo algo muito importante de ser lembrado com atenção ímpar. É nessa época do ano em que nós precisamos nos recolher e nos curvarmos em agradecimento a ele que veio ao mundo para nos salvar: o décimo terceiro salário, ou você pensou que eu falava de Jesus? Ai, meu Deus, mas que diabos! É a hora de o operário comprar aquela calça que ele produziu custando dez e que agora na loja ele vai compara por vinte e nem sequer dar conta de que o mesmo proprietário da indústria em que ele trabalha também é dono das lojas do comércio local.
   Bem, mas como eu dizia, estávamos perdidos, eu e os proletários ávidos para consumir a enganação mensal que o patrão nosso de cada dia nos paga. Foi por causa dessa alheia procura desenfreada por presentes que fui deixar meu local de trabalho fora de meu horário habitual de expediente e perdi o último ônibus, o último trem, o último táxi e talvez perdesse o último avião se houvesse. Como escrevera Drummond “perdi o bonde e a esperança”...
   O jeito era esperar madrugar. Quatro da madrugada era batata ter ônibus circulando. Sentei-me na cadeira da rodoviária e pseudo-semi-quase-que cochilei. Logo depois decidi dar uma volta pelo centro da cidade, afinal muitos bares ficavam abertos ali – gente fina é outra coisa.
   Entrei nu boteco que tinha aquelas máquinas em que se põe uma moeda e escolhe música. Joguei um níquel escolhi uma melodia de uma banda americana de rock dos idos do final dos anos de 1960 – The Doors. É importante explicar o porquê. A canção era muito comprida assim seria um bom investimento ter gasto a minha moeda.  E lá estava eu na quarta cerveja e o som dos Doors ainda tocava. Fui me sentar numa mesa próxima ao sanitário feminino e isso me preocupava, pois no momento de descarregar a cerveja eu não poderia me confundir...
   E foi então que ela apareceu na porta dói banheiro. Ficou parada fumando de piteira com uma classe de fazer inveja. Um luxo! Trajava saia justíssima, um decote na blusa turquesa deixando evidentes seus seios cheios.  Maquiagem no lugar, cabelos compridos, alourados e soltos... mas seu rosto era velho, cansado, abatido por alguma coisa que tão logo eu ficaria a par. Meus lábios não proferiram palavra; em contrapartida meus olhos diziam, gritavam, tagarelavam. ela mesma se prontificou:
   - Posso me sentar junto a você?
   Bem, é claro que concordei. Se já estava perdido, me perder um pouco mas não faria diferença. Perguntei a ela se queria um drinque no que ela aceitou. Para quem hesitaria em gastar um níquel numa máquina que toca música minha radical mudança de comportamento foi surpreendente. Blá blá, blá vai blá, blá, blá vem ... perguntei seu nome e ela me disse Lorena. Deixei que uma atmosfera se sensações tomasse espaço dado momento. Eu sabia que aquele semblante fatigado e enfastiado deveria ter passado por uma série de bons momentos porque se o rosto não atraía o corpo até que não era lá de se dispensar. Estava enxuta a coroa. E é até cruel chama-la de coroa. Com aquele corpo deveria ser uma atleta de alcova. Às vezes diz-se que está tudo em cima: peito em cima de barriga, barriga em cima de coxa... essas coisas...
   Mas era meso uma coroa. Aliás, era uma figura mais ilustre do que eu imaginava. Nada mais nada menos do que... a Loira do Banheiro! Ela me disse isso na maior naturalidade e me emocionei, quase quis pegar um autógrafo mas aí pensei quanto era tietagem e ela poderia me interpretar mal. A loira falava e eu não conseguia raciocinar. Como ela poderia frequentar várias escolas ao mesmo tempo? Poderia ser uma farsante, uma sósia, um clone, quem sabe. Mas no meu tempo de escola ovelha Dolly só em ficção científica.Naquela ocasião essas interrogações não vieram á baila. E, como que adivinhando minhas curiosidades prementes começou a falar de seu passado. Disse que fora uma menina muito bonita e precoce. Dez anos de idade tinha corpo de dezoito. Mas mesmo em tenra idade teve homem que não respeitou a abusou sexualmente da menina. Tal episódio fez com que Lorena criasse asco por sexo a ponto de querer se vingar. Como não encontraria o verdadeiro criminoso decidiu atrasar a vida de qualquer homem. Alto ou baixo, obeso ou esquálido, negro ou pálido, ninguém escaparia de Lorena...
   Dito e feito. Passou o resto da existência destruindo homens, machucando machos, adulterando adúlteros. Até que um dia notou que ninguém mais dava bola para ela. Na vida terrena o sistema de aparências instaurado em nosso mundo livre cobra seu quinhão. Lorena foi ficando velha. O cabelo teve de tingir. Começou a usar espartilho para despistar os “pneus” e meia calça para camuflar as pernas eivadas de varizes. Pensou até em cirurgia plástica mas seus honorários não daria para tal. Foi ficando mofina, moribunda, mocréia, mixa. Refletiu e pediu a conta. Iria se aposentar.
   _ Olha Lorena, você não está velha nem nada. Apenas amadureceu. Seu erro na vida foi querer se vingar de todo mundo e todo mundo não tinha culpa. Ninguém é igual, nem nossos dedos das mãos. As pessoas não são classificadas como boas ou ruins, são o que são. Comece a pensar assim e vai encarar os homens de outra forma. Eu por exemplo não sou cruel, eu juro que...
   Aí a loira começou a me encarar de uma maneira mais penetrante. O olhar flamejava, a boca seca, algo estranho... Recomeçou a falar a me xingar e quase a me bater.
   - Ahá! Você também tem esse papo de cara bonzinho? Olha, se bobear foi você mesmo quem me bolinou naquela noite de humilhação e dor! Você não tem vergonha na sua cara, não, seu...
E falou um palavrão. Continuou:
   _ Acha que vou cair nessa conversinha de Don Juan?! Aqui, ó!
   E tomou uma garrafa de cerveja e atirou-a em minha cabeça. Desmaiei.
   Agora continuo perdido. Estou num hospital, de cabeça quebrada, o dinheiro de minha carteira desapareceu idem a loira. Acho que a cerveja que bebi estava estragada pois vinha escrito no rótulo “desde 1888”. Eu, hein! Evite loiras geladas e dependendo da ocasião em sentido ambíguo. Continuo perdido mas só assim poderei me encontrar...


quinta-feira, 3 de julho de 2014

Rei da Estrada - Por Fábio Sant'Anna




Mais uma experiência com meus quadrinhos. Aqui o personagem é o rei da Estrada! Curte aí! Querendo mais: asboasdosant'anna.blogspot.com.br

terça-feira, 24 de junho de 2014

Tom - O Suicida


Aqui segue meu primeiro experimento de animação. Daí para o desenho animado é um pulo. Mais em asboasdosant'ana.blogspot.com

sábado, 21 de junho de 2014

Drops Rock 53 - Michael is Live ou...




No programa de N°53 prestamos uma homenagem póstuma a Michael Jackson... Póstuma? Eis a dúvida, afinal Michael morreu ou virou purpurina? De repente ele pode estar mais vivo do que eu e você. Assista nosso programete até os créditos finais e terá uma grande surpresa!

domingo, 1 de junho de 2014

Drops Rock 52 - Beatles Boy Band?




No programa 52 Fábio Sant'Anna desabafa sobre as boy bands e tenta tirar desse saco de gato os Beatles. O que ou quem são as boy bands e o que elas pretendem. Curta o programa e relembre daquela banda de 'rock' que voce tanto gostou.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Um Artigo de Mauro Marcel

globo, hashtag e copa

                O ano é 2014, o mês é maio e como a copa do mundo está próxima não posso perder a oportunidade de falar em eleições.
                Não tenho o menor interesse em discutir o óbvio ululante, os problemas dos brasis não se resolverão com o fim do torneio e nem começaram nele. Não quero falar sobre os bilhões investidos num torneio e não gastos com saúde, educação, segurança.
                Também não quero falar mal da rede globo. O problema não está na globo, está no cara que segura o controle remoto, não se esqueça disso.
                É fácil dizer hoje que hashtag não vai ter copa.
Já sou velho nisso. Não houve copa pra mim em 1998, em 2002, 2006 e 2010. Houve em 1994, mas eu era muito criança e estava eufórico, porque pela primeira vez tínhamos televisão em casa e sabe como são as coisas. Em 94 fui campeão, aliás, tetracampeão com a seleção do Parreira, do Romário, do Bebeto. Pessoas que invadiam minha casa e traziam a alegria que fora ceifada com a morte do Senna. Alegria?
A culpa não é da Fundação Roberto Marinho, a culpa está no cara que segura o mouse.
                Em 1994 foi o início de uma nova era, a hiperinflação acabou e muitos jovens púberes, ou impúberes não sabem “ainda” o que é acordar com o pão custando 1 edormir com ele valendo 10, ao fim do mês custa 100 e com o passar de várias semanas não tem mais pão. Não vou defender o pessoal tucano que projetou o plano real, mas ao final do ano com a vitória do Brasil me senti um idiota vendo fernando henrique assumir a presidência na esteira da conquista nos Estados Unidos.
                E por falar dos irmãos do norte, nessa copa do tetracampeonato havia um estádio que nem tinha o tamanho específico para uma partida de futebol amador, foi feita uma adaptação de um estádio de futebol americano, isto é, não ampliaram, não demoliram, não seguiram o padrão fifa (assim mesmo em minúsculo), é como minha avó dizia: “quem se abaixa demais amostra a bunda”.
                A “entidade máxima do futebol” sabe o que faz. Aprendeu o caminho do dinheiro, seguem a estrada dos tijolos amarelos, a última experiência com países civilizados ocorreu na Alemanha, depois disso haverá uma longa sequência de copas do mundo em países com leis relativizadas: África do Sul, Brasil, Rússia, Qatar. Países em que as leis são tão flexíveis quanto a moral do blater, havelange, ronaldo e irmãos marinho.
                A culpa não está na copa está no cara na frente da tela do computador.
                Em 1998 o Brasil tinha uma seleção muito ruim e como as demais eram também ruins a seleção canarinho foi à final e nos sentimos no direito de dizer que a copa foi vendida para os donos da casa. Disse: nos sentimos? Eu não. Não me senti roubado, não torcia mais para futebol e ri muito alto quando ouvindo o desespero do galvão bueno ecoando pelas vozes de meus primos, primas, tios, amigos, vizinhos chorando pelo penta perdido.
                Em 2002 já estava com a postura que tenho hoje em relação ao torneio mundial de futebol: indiferença. Tanto que estava fazendo coisas muito mais interessantes na final e nem tomei um porre com a vitória dos ronaldos e rivaldo. Os jogos eram de madrugada e eu nem perdi meu sono. Minto. Acordava com os fogos e explosões de alegria dos gols fazendo o dia seguinte brasileiro muito mais ameno.
                Vexames em 2006 e 2010 e eu com a mesma indiferença.
O mesmo não percebia da população que pintava as ruas, torcia efusivamente, coloriam as escolas, os ambientes públicos, até igrejas. Os cultos e missas nunca na hora do jogo. As empresas parando a produção para que os funcionários assistissem às partidas. Quem é o gerente mal caráter que impediria seu funcionário de assistir ao grande clássico do futebol mundial: Brasil versus Turquia????
                A culpa não está nos candidatos, está na pessoa que tecla na urna.
                Imagine você com um câncer, seufilho mais novo semianalfabeto, seu filho do meio precisando de universidade e o mais velho desempregado. Sua esposa com os dentes cariados e a sua casa alugada caindo aos pedaços. Você então dá uma festa. Pede dinheiro emprestado, aluga um buffet, compra carne, muita carne, e cerveja, muita cerveja. Aliás, quando faltam algumas semanas pro evento você decide pegar mais dinheiro emprestado e construir um novo buffet. Talvez você nunca dará outra festa na vida, pode morrer de câncer manhã, mas não importa, só a festa importa: a cerveja que aumentou de preço, a carne que aumentou, as visitas que chegaram e o que vão pensar das festividades. Você reserva um bom dinheiro para roupas (alugadas), carros (alugados). O que importa depois da festa...? Imaginou isso? Agora imagine se a sua esposa disse que não pode ir pra festa porque os dentes estão cariados. Seu filho mais novo diz que não vai porque não sabe ler o convite. O do meio não quer ir porque preferiria que o dinheiro fosse gasto com o seu curso superior. O mais velho só pensa no emprego que não tem. E você, o pai, quer festejar de qualquer jeito. Agora imagine que toda a família começa a atrapalhar o andamento da preparação, tipo jogando água no chope, salgando demais a carne, furando o pneu do carro alugado. Ligando pros convidados e dizendo que você em vez de gastar com a família e suas necessidades está dando uma festa de arromba para impressionar as visitas...
                Imaginou? Então. Talvez por isso eu não fique indiferente dessa vez. Apenas acredito que a carne do churrasco está comprada, a cerveja está gelada e eu já paguei por tudo. Foi do meu bolso e eu fui consultado sim. Fui consultado sim. Repito: Fui consultado sim.
                Vivemos numa república, uma democracia representativa. Quando se utiliza a urna como privada é isso o que acontece: bilhões gastos num torneio que deveria trazer investimento e traz vergonha inclusive aos organizadores. Apenas acho de uma hipocrisia sem tamanho o cara estar dentro do estádio na abertura do evento, com o ingresso comprado e tudo mais, e vaiar a pessoa que proporcionou a festa. Se merece a vaia ou não o papo é outro, mas que é hipocrisia é. E da brava.
                A culpa não está no ônibus, mas botam fogo mesmo assim.
                Dentro de alguns dias começará a copa do mundo e o festival de hipocrisia começará: o safado da fifa lucrando bilhões e dizendo que há problemas de estrutura, o militante de esquerda pregando a revolução com uma mão e segurando o álbum da copa completo na outra, o galvão bueno ufanizando todas as situações, o povo no ônibus gritando que a culpa de tudo o que é ruim é da copa, sem lembrar que tudo já era ruim antes disso e não vai melhorar sem leitura, senso crítico, respeito às instituições, valorização do voto, exclusão de políticos corruptos da cena pública, crítica verdadeira e tolerância ao contraditório.
                Nada vai melhorar e nem piorar com a copa, este é o grande problema. Vai tudo continuar a mesma porcaria: ninguém assume a culpa.
                Quer saber, dessa vez eu vou é sentar em frente à tv, abrir uma gelada, assar a carne na grelha e ver jogo após jogo. E qual a minha expectativa para o mundial?
                 Resposta: Quem vai tirar maior proveito eleitoral.
            Assim mesmo. Parece que o problema da falta d’água foi resolvido, o da violência, educação, narcotráfico etc. Tudo culpa da copa. Nação sem leitura, opiniões simplistas. Sim, vai ter copa. E não importa quem vença, a história está passando e nós todos perdendo as oportunidades de construir uma nação verdadeira, com um processo civilizatório real e digno.
                Mas é assim mesmo. Logo logo esquecem de tudo. Em instantes começam a falar das olimpíadas do Rio de Janeiro. Então voltamos tudo do começo.
                Depois o carnaval, os carnavais...
              Até que se passem quatro anos e outra copa se inicie trazendo saudades do tempo em que lutamos por um país melhor... e fracassamos.
                Afinal o problema não está na globo...