Minha memória busca fatos
Da noite de meus tempos
Cabelos trançados,
Mamãe queria-os assim.
Saia, sem ser mini
Vida sem ser maxi
Um pouco de maquiagem
Batom num brando tom
No florir de primaveras
Desabrochava bonita e cobiçada
Pecado retribuir!
Meus quinze anos ainda jovens demais
Mesmo em quinze minutos!
O coração batendo a cento e cinquenta
Mesmo com o tesão que o bico do seio
aguenta.
Eis que uma porta ouviu fofoca
Minha boca calou-se num beijo
O beijo da traição
Vieram matriarcais: surra e sermão
“Isso não são modos de moça de
família!”
Queria saber quando iriam me
deserdar.
Terminei colégio
Consegui trabalho
Respirei fumaça de fábrica
E a liberdade de casa
Com vinte e um anos a saia encurtou
E alguém me piscou.
Sim, este poderia beijar.
Era doutor
E eu me curara da delinquência juvenil.
Veio namoro
E nas veias o fogo.
Conheci as núpcias antes da lua de
mel,
O casamento depois do motel.
Tão longe da vista da vizinhança
Poderia desfrutar alguma lambança
Cortei minhas tranças
Remocei esperanças
Não era criança
Pois no ventre já trazia uma
Casei-me precedendo parto
Minha mãe nem sonhava com o fato
Depois de tempos corridos
Algo me encheu de tristeza
Cheguei numa crucial incerteza:
“ou o casamento era ruim
Ou não era para mim”.
Trabalho deixei de ir
Ciúme, talvez demais
Minha silhueta atraia demais
E agora pia, tanque, fogão
Não podia ver manicure, não
E meu marido “tudo” me dava:
Joias e sedas caras, perfumes
Embora sequer pro futebol me convidasse.
Inda assim, retribuía
Afinal, eu tinha um lar, família
Filho e máquina de costura que
infelizmente não cerzia coração rasgado.
Para ter tudo apenas precisava dar
parte de mim
Eu não passava de uma prostituta
Uma filha da...
Minto!
A própria puta.
Oh! Destino cruel e surpreendente!
Casei-me com um doutor que me deixava
doente.
Meu homem me dava o mundo
Mas me tirava da Terra.
Se eu soubesse ser esse meu fim
Teria encurtado saia na juventude
Brincos de argola, batom escarlate,
rímel e Rouge.
E nem me preocuparia
Mamãe se desesperaria
No entanto fui fraca
Vendi-me por tão pouco
Vendi-me sem conhecer meu valor
E hoje pago pelo meu desamor
Sou mulher de vida fácil
Na dificuldade de ser santa
Abri mão de anseios
E hoje carrego dor em meu seio
Sei, será meu fim
E já está na hora de preparar o jantar
Sou forte quando choro
Cebola cortada faz chorar...
Com este poema eu fui premioado em Primeiro lugar na categoria de interpretação - ( na verdade ele foi interpretado e a atriz tirou o maior prêmio ) - no XIII Festival de Poema, Crônica e Conto de Imperatriz - Maranhão. Foi Premiado ainda no 5° certame " A Palavra em Prisma" no município de Guarulhos - São Paul em 2007.
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