drops rock

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Rei Corora


 

   Estupefato fiquei ao chegar em casa e ligar o meu aparelho receptor-reprodutor-televisor para poder me entreter um pouco. Na tela ainda não plana lá estava ela mais uma vez, e pela última vez. Falo de Roberto Carlos, cantor mais conhecido do Brasil. Nem pior nem melhor, apenas diferente ou pelo menos fora num passado remoto, até porque nos últimos vinte anos – para ser mais modesto- RC manteve-se fiel ao seu estilo de “cantor romântico”, usando sempre as mesmas falas, os repetidos trejeitos, as únicas cores de terno azul eterno e toda uma série de ações das quais já estamos calvos de saber.  Sendo assim, o que poderia ter me deixado estupefato dado momento? Ora, é que aquele Roberto Carlos que se apresentava na presente ocasião não o era. Ou pelo menos não demonstrava que fosse. Aquele era o seu derradeiro especial de fim de ano patrocinado pela rede de TV do plim-plim.

   E lá estava então Robertão no palco trajando um belíssimo terno de tom... Marrom! A cor outrora repugnada agora fazia parte primordial de seu vestuário. Por debaixo do terno uma camisa preta entreaberta no peito, ostentando seu místico medalhão. Calçava ainda uma bota extravagante bem mais chamativa a qual da época da Candinha fofocava há décadas.

   No momento do show a canção de abertura foi “Quero que vá Tudo pro Inferno” seguida de “Negro gato” e outras canções de quilate incendiário. Nada de superbabas bregas ou quaisquer outros “detalhes”.  Depois de seus típicos comentários, na ocasião atípicos, disse que agora fazia questão de votar num partido político de número 13 e outras pérolas oriundas de sua nova fase. De repente, em outro momento do espetáculo acrescentou em seu repertório “ O Pirata da Perna de Pau” onde Roberto aparecia ostentando um tapa-olho  vestido à caráter, de camiseta listrada em preto e branco, com uma bermuda deixando à mostra suas pernas que fazia jus a canção. Logo em seguida, abrilhantando o clima carnavalesco mandou “  dos carecas que Elas Gostam Mais” atirando no palco,  em meio a apresentação, a peruca estilo “cabelo de Gretchen” levando o mulheril local a comoção e aos tapas na intenção de adquirir uma muda daquela vegetação pseudo-semi-quase-que capilar. Importante salientar ainda que Roberto Carlos embora afirmasse que suas superstições eram frescuras continuava católico, por isso não tivemos nesse especial de televisão imagens de santos católicos sendo chutadas.


   No dia seguinte não se falava de outra coisa nas rodas dos frequentadores dos sofás das salas que ficam “panguando” assistindo o tão previsível especial de fim de ano do Rei: “Você viu? Era mesmo peruca!”

   As vendas do seu mais recente CD – “Tudo Pro Inferno Novamente” – triplicaram em comparação as do ano passado. Os telefonemas fervilhavam na sede da TV pedindo que o programa fosse reprisado. Parecia que Roberto Carlos estava mais uma vez no auge pois,  quem é rei nunca perde a majestade. Mas Roberto dissera que se tratava de seu último show e falava sério quando fez tal comentário. Ao menos encerrava sua carreira com chave de ouro mandando tudo pro inferno graças a Deus, e sabendo que apesar de haverem tantas emoções um dia esta seria a última.

Entretanto, ao acordar de manhã eu percebi que tudo isso não havia passado de um sonho. Sabe mais um daqueles porres de final de ano? Era isso, infelizmente. Roberto permanece vivo, ou morto para os mais radicais. A hora extra se estendia um pouco mais...

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