Estupefato fiquei ao chegar em casa e ligar o meu aparelho
receptor-reprodutor-televisor para poder me entreter um pouco. Na tela ainda
não plana lá estava ela mais uma vez, e pela última vez. Falo de Roberto
Carlos, cantor mais conhecido do Brasil. Nem pior nem melhor, apenas diferente
ou pelo menos fora num passado remoto, até porque nos últimos vinte anos – para
ser mais modesto- RC manteve-se fiel ao seu estilo de “cantor romântico”,
usando sempre as mesmas falas, os repetidos trejeitos, as únicas cores de terno
azul eterno e toda uma série de ações das quais já estamos calvos de saber. Sendo assim, o que poderia ter me deixado
estupefato dado momento? Ora, é que aquele Roberto Carlos que se apresentava na
presente ocasião não o era. Ou pelo menos não demonstrava que fosse. Aquele era
o seu derradeiro especial de fim de ano patrocinado pela rede de TV do
plim-plim.
E lá estava então
Robertão no palco trajando um belíssimo terno de tom... Marrom! A cor outrora
repugnada agora fazia parte primordial de seu vestuário. Por debaixo do terno
uma camisa preta entreaberta no peito, ostentando seu místico medalhão. Calçava
ainda uma bota extravagante bem mais chamativa a qual da época da Candinha
fofocava há décadas.
No momento do show a
canção de abertura foi “Quero que vá Tudo pro Inferno” seguida de “Negro gato”
e outras canções de quilate incendiário. Nada de superbabas bregas ou quaisquer
outros “detalhes”. Depois de seus
típicos comentários, na ocasião atípicos, disse que agora fazia questão de
votar num partido político de número 13 e outras pérolas oriundas de sua nova
fase. De repente, em outro momento do espetáculo acrescentou em seu repertório “
O Pirata da Perna de Pau” onde Roberto aparecia ostentando um tapa-olho vestido à caráter, de camiseta listrada em
preto e branco, com uma bermuda deixando à mostra suas pernas que fazia jus a
canção. Logo em seguida, abrilhantando o clima carnavalesco mandou “ dos carecas que Elas Gostam Mais” atirando no
palco, em meio a apresentação, a peruca
estilo “cabelo de Gretchen” levando o mulheril local a comoção e aos tapas na
intenção de adquirir uma muda daquela vegetação pseudo-semi-quase-que capilar. Importante
salientar ainda que Roberto Carlos embora afirmasse que suas superstições eram
frescuras continuava católico, por isso não tivemos nesse especial de televisão
imagens de santos católicos sendo chutadas.
No dia seguinte não
se falava de outra coisa nas rodas dos frequentadores dos sofás das salas que
ficam “panguando” assistindo o tão previsível especial de fim de ano do Rei: “Você
viu? Era mesmo peruca!”
As vendas do seu
mais recente CD – “Tudo Pro Inferno Novamente” – triplicaram em comparação as
do ano passado. Os telefonemas fervilhavam na sede da TV pedindo que o programa
fosse reprisado. Parecia que Roberto Carlos estava mais uma vez no auge pois, quem é rei nunca perde a majestade. Mas Roberto
dissera que se tratava de seu último show e falava sério quando fez tal
comentário. Ao menos encerrava sua carreira com chave de ouro mandando tudo pro
inferno graças a Deus, e sabendo que apesar de haverem tantas emoções um dia
esta seria a última.
Entretanto, ao acordar de manhã eu percebi que tudo isso não
havia passado de um sonho. Sabe mais um daqueles porres de final de ano? Era
isso, infelizmente. Roberto permanece vivo, ou morto para os mais radicais. A
hora extra se estendia um pouco mais...
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